Por: Psic. Luana Ribeiro de Souza CRP 08/22358 – Psicóloga na Associação Fênix

Suicidio

Há quem diga que o século 21 seria um século em que não teríamos preconceito, tabus, entre outros termos que mexem com a moral e com o social. No nosso dia a dia presenciamos tantos detalhes, que muitos deles passam despercebidos.

Você já parou pra pensar que a pessoa que está sentada ao seu lado no banco, no ônibus ou em qualquer outro local, pode estar pensando em tirar a própria vida? E se ele te contasse, o que você faria? Provavelmente daria um conselho e diria frases clichês como: “não faça isso, você é um(a) moço(a) tão bonito e jovem!”, “você sabia que tirar a própria vida é pecado?”, “que gesto covarde da sua parte, existem tantas pessoas no mundo sofrendo mais que você e nem por isso tiram suas próprias vidas!”, entre outras frases que você deve saber quais já falou.

Mas, por que um jovem gostaria de tirar a própria vida? Por que uma criança pensaria nisso? São várias perguntas que eu poderia questionar com você e tentar achar uma resposta plausível para se justificar um suicídio.

O termo em questão ainda é tabu em milhões de famílias pelo mundo todo e pouco se é falado em forma de orientação dos pais aos filhos. O suicídio não é algo novo, não é algo que não acontecia e muito menos algo que cresce ou diminui ao longo do tempo, o que acontece é que, hoje, no século XXI a internet veio a todo vapor para escancarar da maneira que for preciso, o que antes era segredo de família.

A mídia tem dois lados, assim como a internet.  Quais sejam eles, o de informar e o de alienar. Para qual você usa?

O cinema retrata o suicídio há muitos anos, mas isso não é algo que se vende tão fácil. Por exemplo o filme A PONTE (2006) que  trata-se da ponte mais famosa dos EUA, a Golden Gate; no ano de 2004 o diretor do filme registrou a rotina do local e filmou mais de 20 suicídios; O filme O PACTO (sion sono, 2001), fala sobre o suicídio de 54 garotas de uma mesma escola e outros pequenos acontecimentos que remetem ao suicídio; Entre os filmes que relatam o tema estão: Garota Interrompida (1999), Sala do suicídio (2011), Mishima: Uma vida em quatro tempo (1985), As virgens suicidas (1999), Ensina-me a viver (1971), entre outros títulos que podem ser pesquisados pela internet. Assim também funciona com os seriados, tal como o mais famoso de hoje, “13 Reasons Why” em portugês “Os 13 Porquês”, que acabou trazendo o tema “suicídio” de uma forma romantizada justificando o ato em 13 motivos.

O suicídio vem sendo divulgado pela internet de várias formas e um deles, mais presente hoje, é o Jogo Baleia Azul. O jogo consiste em 50 etapas que devem ser cumpridas pelos jogadores e registradas para serem encaminhadas ao CURADOR (pessoa que acompanha e passa as etapas que devem ser realizadas). Caso o jogador queira sair do jogo, ele tem 24h para colocar outro jovem em seu lugar, caso ele não proceda segundo as ordens, o jogador  passa a viver constantes ameaças pela internet e acabam cedendo e voltando ao jogo.

Em uma pesquisa pessoal, entrei na rede social referida, onde consegue-se encontrar o curador, e que milhões de jovens dão suas opiniões e incentivos a outros jovens para participarem do jogo em questão. Ao ler os comentários desses jovens, o que mais me espantou, foi o falta de supervisão por parte dos genitores/cuidadores desses infantes. Muitos deles têm acesso ilimitado e sem mínima fiscalização, fazendo mau uso das redes sociais.

E o que fazer? Como parar tudo isso?

A partir do momento que os adultos passem a entender o que crianças e adolescentes sofrem de fato, algumas coisas podem ser evitadas. O adulto tem a triste mania de achar que os jovens não têm motivos para sofrer, mas eles têm. O descaso, o abandono afetivo, a imparcialidade, entre tantos outros motivos que o adulto pode causar na vida de um jovem, criança/adolescente ao fechar os olhos para essa problemática, facilitando que este jovem/criança/adolescente possam não ter resiliência o suficiente para lidar com tudo o que podem estar passando e em consequência disso, acabar tirando a própria vida.

A Associação Fênix trabalha com crianças, adolescentes e jovens vítimas de abuso sexual, portadores do vírus HIV e conflitos familiares e antes mesmo do jogo Baleia Azul surgir na cidade de Curitiba e região ou na mídia, já tínhamos jovens que vieram encaminhados por tentativa de suicídio. Jovens estes, que após sofrerem abusos violentos de todos os tipos, não viram outra saída para lidar com as consequências emocionais e sociais que aquele episódio veio a causar. O jogo pode ter vindo para intensificar o incentivo ao suicídio, mas não é o único motivo de tantos jovens quererem tirar suas vidas.

Pais, cuidadores, professores e todos os envolvidos com esse público, devem aprender a ouvir e dar lugar de escuta aos anseios/sofrimento destes. É importante procurar orientação profissional, buscar pela rede de proteção e estarem mais próximos de seus filhos ou de qualquer outro ente de um modo geral, pois a atenção, o carinho o, preocupar-se com, pode mudar um pensamento e uma possível atitude desses jovens.

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